segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Alegria
sábado, 26 de setembro de 2009
Descobrir-se
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Tlacotli
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Menino homem
Foi essa frase que ouviu do avô algum tempo atrás. E hoje percebe a profundidade dela.
Passou o tempo em que as preocupações se resumiam a trabalhinhos da escola, descobrir como passar de fase no video-game, achar a melhor formação tática para o time de botão ou saber se poderia dormir na casa do tio no fim de semana. As preocupações hoje são mais sérias (note que eu digo "mais sérias" e não "mais difíceis", já que a dificuldade era bem grande!).
Talvez ele possa se comparar ao comandante de um exército. Tem missões para cumprir e, para isso, conta com a ajuda de seu exército de amigos e familiares. Este seu exército teve algumas baixas durante o percurso, seja por impossibilidade ou por desistência, mas a verdade é que teve admissões suficientes para "completar o time". Assim como alguns soldados o decepcionaram, sabe que também decepcionou outros, entretanto são questões que ficam para trás, ou pelo menos ficarão até serem resolvidas. Mas, voltando às missões (ou preocupações), hoje ele tem que lidar com dinheiro, estudos, trabalho, sentimentos, etc.
Talvez, para ele, dos destacados, o mais complicado seja o último: sentimentos. Mas, para quem derrotou Robotnik e tirou conceitos máximos no primário, lidar com a raiva, a revolta, a alegria, a tristeza deve ser moleza, né? Pois é, só que o que o aflige é outro sentimento.
Observe: ele passou horas e horas de sua infância jogando botão sozinho em seu quarto; era, como ele próprio chamava, o treinamento. Foi difícil demais, mas ele adorava. Sofreu derrotas e mais derrotas nos campeonatos para o tio (normal de se esperar), para os primos e demais participantes. Mas não abaixou a cabeça diante disso. Continuava jogando sozinho em casa, a fim de melhorar. Até "titulares x reservas" ele fazia. Foi quando descobriu o 3-5-2, sistema tático que ele usou para dar mais equilíbrio nas partidas dos campeonatos. E funcionou: ele conseguiu ser campeão em dois dos oito campeonatos "oficiais" que disputaram. E há quem diga que criança não tem preocupações! Mas essa ele venceu.
Agora, lembra-se do sentimento que eu falei que o afligia? Pois então, para ele não há treinamentos, não há "titulares x reservas", não há esquema tático que resolvam. Ele simplesmente chega e pronto. E, acredite, não há 3-5-2 que facilite. Apesar da dificuldade de ser campeão de botão ter sido enorme, ela não se compara à dificuldade de ter inspiração.
Não deixou de ser menino, mas tornou-se homem. Um homem com jeitão de criança, que raras vezes deixa transparecer suas preocupações. Um menino (ou seria homem?) com saudades dos campeonatos de botão. Um homem (ou seria menino?) em busca de inspiração.
domingo, 20 de setembro de 2009
Desabafo
Uma família se prepara para receber visitas num dia de domingo. Os filhos varrem a casa e passam pano nos móveis enquanto a mãe se encarrega do almoço. Lá pelas tantas, o almoço já está quase pronto e a mãe vai até o quarto dos filhos para ver se está tudo arrumado. Enquanto isso, o filho mais velho passa pano no último móvel que faltava na sala, empolgado com a música dos Mamonas Assassinas que ele tinha posto no rádio. A filha, por sua vez, tendo acabado de varrer as escadas que dão acesso ao apartamento, fala com o namorado pelo celular, na cozinha. É quando eles ouvem o primeiro barulho. Ao mesmo tempo, mesmo que em locais diferentes, os três voltam a atenção para a rua. Nisso, mais barulhos são ouvidos e a dúvida, agora, tornou-se certeza: era um tiroteio. Muitos e muitos tiros na rua do prédio. A mãe grita do quarto para que os filhos se abaixem e vão até a área para se protegerem. Então, o filho, na sala, ouve barulho de vidro quebrando e vê os pequenos estilhaços no chão. A irmã aparece na porta que liga a cozinha à sala e os dois correm abaixados para a área. Do outro lado da casa, a mãe corre para o banheiro para se esconder. A família se comunica por gritos. - Crianças! Abaixa e corre pra área! - Já estamos aqui! - responde a filha mais nova. - Tá tudo bem aí? - pergunta o filho. - Tá! Os tiros não cessam por mais alguns segundos. Até que param. A mãe vem ao encontro dos filhos na área e os vizinhos de trás avisam à família que a polícia já estava ciente. Alguns minutos mais tarde, a família está na frente do prédio com os vizinhos, vendo um carro abandonado atravessado na pista e a polícia, sem nada poder fazer. Ouve-se que foi uma tentativa de seqüestro, com troca de tiros entre os seqüestradores e os seguranças do que seria sequestrado. A família sobe para casa e vê o resultado: uma bala entrou pelo vidro da janela da sala e alojou-se na parede, outra bateu na armação da janela do quarto das crianças e quebrou o vidro. A sala, antes varrida, limpinha, encontrava-se agora com cacos de vidro por todo o chão. O almoço, que estava no fogo, quase pronto, queimou. O filho mais velho aproveitou a distração da mãe e da irmã e foi para o quarto inconformado, na tentativa de se isolar. Duas lágrimas desceram por seu rosto. Uma de revolta, indignação. Outra de agradecimento à Deus, pois algo muito sério esteve próximo de acontecer com sua família. Sem ação, ele não sabe o que falar, o que pensar, está inconformado. Não entende o mundo, as coisas como são. Não faz sentido!! Se bem que, um lugar no qual acontecem coisas assim, não possui o direito de ser chamado de mundo.