sexta-feira, 27 de maio de 2011

P E TRI K O V I C - Gosto, sentimento, lágrimas e certezas

Dia 27 de maio de 2011.
Neste dia, completa-se 10 anos que o Flamengo foi tricampeão estadual de futebol.
Já não se faz mais necessário falar daquele jogo, do adversário, das condições da partida ou de como eu me senti quando a bola entrou no ângulo, após a cobrança de falta do Pet aos 43 minutos do segundo tempo. Falarei sobre como me sinto, dez anos depois, ao assistir, novamente, esse momento que marcou a vida de tantas e tantas pessoas. Esse momento, hoje, tem um gosto, um sentimento, algumas lágrimas e certezas.
Tem um gosto porque, em 2001, ainda na sétima série do Ensino Fundamental (atual oitavo ano), eu tinha um colega de turma chamado Leonardo, vascaíno e que estava certo da superioridade do time cruzmaltino em relação ao meu Mengão, a ponto de propor uma aposta.
- Não adianta! O Vasco está muito melhor que o Flamengo! Não vamos perder três finais seguidas para vocês, Brasil! - disse o Léo, me chamando pelo sobrenome, como todos na escola faziam.
Como éramos crianças, a aposta foi bastante contida, ficando decidido que o torcedor campeão receberia duas balas da cantina, a serem pagas pelo vice.
Na segunda-feira após o primeiro jogo da final, vencido pelo Vasco por 2 a 1, o Léo chegou na escola e disparou:
- Brasil, se você preferir me pagar uma bala hoje e a outra na semana que vem, não tem problema!
Eu me limitei a dizer que ainda faltava um jogo. E essa foi a decisão certa.
Uma semana depois, um menino triste, porém de palavra, me entregou duas balas de hortelã, dizendo:
- Cara, eu não sei o que acontece com o Vasco quando joga com o Flamengo!
Eu recebi as balas com um sorriso estampado no rosto e "consolei" meu colega:
- Pode deixar que eu nem vou te zoar muito, tá?!
Por isso, ao rever atualmente o gol de falta do Pet, sinto e saboreio o gosto de hortelã daquelas duas balas.
Além do gosto de hortelã, um sentimento toma conta de mim. É saudade da minha avó materna.
Apesar de botafoguense, ela estava sentada no sofá do meu quarto, há dez anos atrás, assistindo ao jogo comigo e minha irmã (essa, sim, flamenguista!). Lembro-me como se fosse hoje que, quando o Edílson fez o primeiro gol do Flamengo, de pênalti, eu comemorei, fui à janela, dei o meu tradicional grito de "MENGO!!!!", e, assim que eu me sentei de volta no sofá, a Vovó Zelina falou:
- Relaxa que daqui a pouco o Juninho vai fazer um gol...
- Que isso, vó! Eu, hein?! - respondi.
Dito e feito: Juninho empatou o jogo pro Vasco no finalzinho do primeiro tempo. Eu não sabia se reclamava com o juiz por não marcar falta do Viola ou com a minha avó pela previsão confirmada.
Mas o que dá saudade mesmo quando revejo o gol do Pet, são as risadas dela ao ver o neto pulando e gritando enlouquecidamente com o terceiro gol do Flamengo aos 43 minutos do segundo tempo.
Rever este gol também faz com que lágrimas escorram pelo meu rosto, já que me recordo de momentos de 10 anos atrás. Lembrar da sensação de ser tricampeão, com direito a gol no finalzinho; lembrar que naquele dia chorei mais de uma vez. Chorei na hora do gol do Pet. Chorei quando o juiz apitou o fim do jogo. E, o mais marcante, chorei ao telefone, com o meu tio, quando ele, após o jogo, com a voz embargada por causa das lágrimas por ele também derramadas, me disse:
- Rafa, esse dia é para você não esquecer nunca mais! Pra você aprender que nada é impossível, não só no futebol, mas em qualquer momento da vida!
Bom, falei do gosto, do sentimento e das lágrimas. Faltam apenas as certezas para completar as emoções sentidas ao rever o gol do Pet. E falar dessas certezas é fácil, pois elas são as mesmas que todo torcedor do Flamengo tem: a certeza de ter feito a melhor escolha no campo futebolístico; a certeza de que aquele gol e aquele título ficarão marcados para sempre nas vidas de muitas pessoas; a certeza de que incontáveis títulos ainda virão para serem comemorados.
E a maior certeza de todas: a certeza de que EU TERIA UM DESGOSTO PROFUNDO SE FALTASSE O FLAMENGO NO MUNDO!