Uma família se prepara para receber visitas num dia de domingo. Os filhos varrem a casa e passam pano nos móveis enquanto a mãe se encarrega do almoço. Lá pelas tantas, o almoço já está quase pronto e a mãe vai até o quarto dos filhos para ver se está tudo arrumado. Enquanto isso, o filho mais velho passa pano no último móvel que faltava na sala, empolgado com a música dos Mamonas Assassinas que ele tinha posto no rádio. A filha, por sua vez, tendo acabado de varrer as escadas que dão acesso ao apartamento, fala com o namorado pelo celular, na cozinha. É quando eles ouvem o primeiro barulho. Ao mesmo tempo, mesmo que em locais diferentes, os três voltam a atenção para a rua. Nisso, mais barulhos são ouvidos e a dúvida, agora, tornou-se certeza: era um tiroteio. Muitos e muitos tiros na rua do prédio. A mãe grita do quarto para que os filhos se abaixem e vão até a área para se protegerem. Então, o filho, na sala, ouve barulho de vidro quebrando e vê os pequenos estilhaços no chão. A irmã aparece na porta que liga a cozinha à sala e os dois correm abaixados para a área. Do outro lado da casa, a mãe corre para o banheiro para se esconder. A família se comunica por gritos. - Crianças! Abaixa e corre pra área! - Já estamos aqui! - responde a filha mais nova. - Tá tudo bem aí? - pergunta o filho. - Tá! Os tiros não cessam por mais alguns segundos. Até que param. A mãe vem ao encontro dos filhos na área e os vizinhos de trás avisam à família que a polícia já estava ciente. Alguns minutos mais tarde, a família está na frente do prédio com os vizinhos, vendo um carro abandonado atravessado na pista e a polícia, sem nada poder fazer. Ouve-se que foi uma tentativa de seqüestro, com troca de tiros entre os seqüestradores e os seguranças do que seria sequestrado. A família sobe para casa e vê o resultado: uma bala entrou pelo vidro da janela da sala e alojou-se na parede, outra bateu na armação da janela do quarto das crianças e quebrou o vidro. A sala, antes varrida, limpinha, encontrava-se agora com cacos de vidro por todo o chão. O almoço, que estava no fogo, quase pronto, queimou. O filho mais velho aproveitou a distração da mãe e da irmã e foi para o quarto inconformado, na tentativa de se isolar. Duas lágrimas desceram por seu rosto. Uma de revolta, indignação. Outra de agradecimento à Deus, pois algo muito sério esteve próximo de acontecer com sua família. Sem ação, ele não sabe o que falar, o que pensar, está inconformado. Não entende o mundo, as coisas como são. Não faz sentido!! Se bem que, um lugar no qual acontecem coisas assim, não possui o direito de ser chamado de mundo.
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