segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Mutuamente especial

Existem pessoas que são especiais. Porém, é muito diferente quando a gente percebe que é especial para essas pessoas também.
Porque, quando você é especial, você pode contar a piada mais sem graça do mundo e a pessoa vai te dizer que foi horrível, mas vai estar feliz pensando "isso é a cara dele e eu sentiria falta". Você pode mandar músicas estranhamente velhas, como Britney Spears, ou cantar Backstreet Boys, sem ser julgado.
Quando você é especial para alguém não precisa ficar pisando em ovos, pode falar o que pensa, ser quem é, sem medos de não agradar. E, quando desagradar, isso não será um problema, mas sim um motivo de fortalecer ainda mais a amizade.
É diferente saber que, quando a situação está muito ruim, a ponto do dedinho estourar, a pessoa lembra de você e sua voz ajuda a acalmar, mesmo que não tenha falado nada com nada.
Quando somos especiais para alguém, não importa o nosso nome, porque a pessoa vai nos chamar de um jeito próprio; não importa onde moramos, porque a nossa casa é no coração dessa pessoa.
E quando essa pessoa é especial para a gente também, somos capazes de entender coisas que ninguém entende, usar meios de comunicação que outras pessoas juram que não existem, ir a lugares sem mover um músculo. Por quê? Pois ser mutuamente especial significa ter histórias próprias, ter o que dividir e ter o que multiplicar. Significa ter 5 anos de idade há 8 anos; ter 40 anos de idade há 8 anos; ter todas as idades há 8 anos, dependendo do momento. Significa ter tradições. Significa fazer o máximo para não quebrar tradições.
E é por isso que estou aqui: para não quebrar tradições. Porque você é especial demais e, por mais que eu não saiba o motivo, sei que também sou para você.
Acho que somos uma teoria que deu muito certo na prática. Mesmo que só a gente entenda...

sábado, 28 de março de 2015

Anos de espera

Chegou no quarto já tarde da noite e viu que tinha recebido um monte de mensagens no celular. Com calma começou a ler uma por uma, respondendo apenas as que eram realmente necessárias. Cansado, ia deixar para continuar no dia seguinte pela manhã, entretanto, viu um número estranho na lista de remetentes (para variar um pouco!). A foto do contato, porém, era reconhecível.
"Ok! Vou responder só mais essa. Vai que é crise, né?"
E era crise... Crise de choro (escondido!) quando ele leu a notícia que há anos esperava receber.
Foram anos nos quais o mundo mudou muito; milhões de coisas aconteceram e deixaram de acontecer; bandas fizeram muito sucesso e caíram no esquecimento; filmes quebraram recordes de bilheterias e se tornaram chatos de tantas vezes que foram vistos; a cultura do descartável ficou mais forte e a idéia de "uso enquanto me convém e depois eu jogo fora" começou a ser usada até em relação a seres humanos; duas Copas do Mundo vieram e passaram; etc, etc, etc. Anos nos quais uma menina foi embora para a chegada de uma mulher; faculdades chegaram e se foram como se estivéssemos mudando o canal da televisão; cabelos ficaram longos, depois curtos; barbas ficaram gigantes e depois sumiram; pessoas apareceram e depois saíram de suas vidas com a facilidade de quem vira a página de um livro (ou a dificuldade de quem rasga uma folha em mínimos pedacinhos).
Mas, em todos esses anos de espera por uma notícia, algo foi constante: a presença do remetente da mensagem em sua vida.
Uma presença doída pela distância entre cidades. "Quem foi que teve a idéia absurda de fundar Manaus e Recife tão longe do Rio de Janeiro?" - ele se perguntou muitas vezes nos anos de espera.
Uma presença doida pela proximidade dos dois, mesmo com a distância física. "Quando a gente se vê, parece que nos vimos há poucas horas!" - ele pensava depois de todas as poucas vezes que se encontraram nos anos de espera.
Nesses anos, apesar de todas as mudanças, eles continuaram irmãos! Contrariando aquilo que muitos talvez pensavam, não era fogo de palha, nem bobagem de adolescente ou qualquer outra coisa. Fizeram e são parte um da vida do outro. Tradições que só os dois entendem foram criadas. Maluquices que só os dois não acham maluquice foram elaboradas. Piadas, perturbações, implicâncias, tudo isso virou parte de um rito próprio que a relação dos dois têm.
E ele, ultimamente, sentia-se (e, sem que ela saiba, ainda sente) muito culpado por não dar a atenção merecida a ela e ao rito deles.
Tudo isso passou na cabeça dele em um segundo. Um segundo foi o tempo entre o término da leitura da mensagem e a primeira lágrima que escorreu até ser rapidamente enxugada.
A notícia tão esperada chegou:
"Vou me mudar, achei que vc tinha que ser um dos primeiros a saber, então... Assim que der tô indo pra Angra"
Ela está voltando!!!! Ok, não é para a cidade do Rio, mas é para o ladinho dele. Ele vai poder cuidar mais de perto, como um irmão mais velho deve fazer.


Pois é, minha irmã, minha alegria foi enorme! Você não tem noção...
Mas prepare-se, porque eu vou pegar no pé (literalmente sempre que der!). Mas só porque tem aquele negócio lá das quatro letras, que começou meio do nada, virou verdade verdadeira e hoje se torna cada vez mais certo. Mas isso é coisa nossa, S, só a gente entende...

Escrevi no meio do texto e finalizo repetindo: fizemos e somos parte um da vida do outro. E você será da minha até o fim.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

No meu tempo...

No meu tempo, eu achava exagerado quem usava a expressão "no meu tempo"...
No meu tempo, falar "no meu tempo" era uma tentativa de enaltecer o passado. Hoje, parece ter o objetivo de ridicularizar o presente. 
Sim, essa ridicularização acontecia também no meu tempo, só que, lá, quem dizia "no meu tempo" na tentativa de ridicularizar o então presente, não levava em consideração que o mesmo seria enaltecido por meus coetâneos, os quais, aos poucos, começariam a sentir (talvez por uma imposição cultural ou social) a vontade de fazer uso da sentença "no meu tempo" (que, "trocadilhando", quase condena o tempo presente, tendo o pretérito como promotor deste metafórico julgamento).
Tornei-me - precocemente, confesso - mais um nomeutempista. E prefiro acreditar que, quando desempenhada da forma correta, esta não seja uma classificação negativa.
Pois o que preocupa de verdade, mais do que reclamar (e isso eu faço como ninguém) do tempo em que vivemos, é a possível falta de argumento dos nomeutempistas do futuro.
Pense nisso! Se você já é nomeutempista, traga as coisas boas que viveu no ontem para o hoje. Talvez seja essa a principal função dos nomeutempistas e ainda não foi descoberta pela maioria. Se você ainda não é nomeutempista, viva o hoje de maneira a ter boas lembranças, das quais terá prazer de falar, contar e, com elas, ajudar a construir o futuro presente que viveremos.
O grande paradoxo é ser nomeutempista em busca da extinção dos nomeutempistas, em busca de um tempo, por enquanto utópico (e utópico eu também sou bastante), no qual passado, presente e futuro serão tempos de todos.
No meu tempo, nós podíamos mudar o mundo. Espero a chegada do dia em que ouviremos "No meu tempo, nós mudamos o mundo".

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Sabe que é pra você



Vários anos. Vários escritos. No mínimo anualmente.
E, mesmo assim, sempre tenho algo a escrever. Ou não escrever.
Talvez, justamente por isso. Por um saber o que o outro está passando só de ver o que foi escrito, nem que sejam só 140 caracteres ou, quem sabe, apenas uma palavra.
Até no “não-dito” conhecemos um ao outro. Quando o silêncio torna-se grande, tratamos de mostrar que “estamos aqui”, na maioria das vezes não com essas palavras.
Caramba!! É exatamente isso!!
Talvez, hoje, como Newton, quando supostamente a maçã caiu em sua cabeça, eu tenha passado por um momento de genialidade, que me possibilitou elaborar a mais óbvia de nossas teorias. A mais facilmente comprovada.
Conhecemos tanto um ao outro que nos comunicamos de uma forma própria, só nossa, na qual uma foto compartilhada no Facebook quer dizer mais que uma simples imagem; ou um tweet que aos outros parece significar “A”, na verdade significa um “B camuflado que C.C./S.G. vai entender”. E acho que já fazemos isso por natureza, sem percebermos muitas vezes; na maioria delas, sem nem deixar pistas de que estamos nos comunicando.
Mas o outro percebe. E responde. Vezes com músicas, vezes com retweets ou curtidas, vezes com textos. E, algumas vezes, até com o silêncio. Um silêncio diferente; um silêncio no qual a gente se entende.
E é isso que nos faz próximos: nos conhecemos, mesmo que para os outros pareça que nem sabemos um do outro.
Uma prova disso? Não falei nada, mas você veio até aqui, no meu blog, porque sabia que hoje (ou nessa semana) teria algo para você ler.
Não usei nossas quatro letras preferidas quando estão juntas, não falei seu nome (só abreviei!), não disse o porquê disso tudo aqui. Entretanto, você (e talvez só você) sabe que eu tenho razão.
E o melhor: sabe exatamente o que eu quis dizer desde a primeira linha. E sabe que é pra você.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Mas todo ano tem isso

O último dia do ano sempre deixa as pessoas reflexivas. É um tal de "que venha o Ano Novo, cheio de mudanças, alegria, saúde" e blá blá blá... Parece até que o ano que termina foi uma porcaria só! A tendência é que lembrem só das coisas ruins e que querem mudar; esquecem sempre as coisas boas! Parece que quem manda nos pensamentos da galera no dia 31 de dezembro é o editor da Retrospectiva do Globo Repórter. E, pior, que editor da Retrospectiva do Vídeo Show nem chega perto desta seleção pessoal de acontecimentos...
Mas será que o ano que acaba é sempre ruim assim? Usemos 2012 como exemplo.
Teve praia em janeiro. Mas todo ano tem isso.
Teve samba em fevereiro. Mas todo ano tem isso. De diferente, só o maluco de São Paulo rasgando as notas das escolas de samba.
Teve chocolate em abril. Mas todo ano tem isso. E boa parte esquece que, ao contrário do que Roberto Carlos nos disse nos últimos meses do ano, ESSE CARA não é ele, é Jesus.
No resto do ano, também teve muita coisa repetida: trabalho, muito trabalho, correria do dia-a-dia.
Ah! Jogos Olímpicos! Pois é, Brasil, vamos pular essa parte.
E no lado futebolístico? Teve Botafogo reclamando de arbitragem, mas todo ano tem isso. Flamengo na primeira divisão, mas todo ano tem isso. De diferente (e quase que me fez acreditar na profecia Maia) só o Corinthians campeão da Libertadores e do Mundial.
Tudo bem, era o ano marcado para o "Fim do Mundo", mas teve seu lado bom nisso: historiograficamente falando, o interesse pelos Maias foi grande. Se eu ganhasse R$ 1,00 por cada pergunta sobre a civilização Maia e seu calendário apocalíptico que fizeram para este professor de História que vos escreve, eu estaria passando o Réveillon em uma cobertura de luxo em Paris.
Teve gente fechando com Freixo, mas a maioria abriu com Paes. E, talvez, isso seja motivo para pensar que o tal "Fim do Mundo" perseguirá o Rio também nos próximos 4 anos.
O que não deixa de ser verdade, pois, logo encontrarão um "documento" de uma civilização antiga de nome diferente que dirá que no ano em que a Terra estiver alinhada com o asteróide B 612 (sim, o do Pequeno Príncipe), o sol vai emitir raios ultrablábláblá e o mundo vai acabar. Mas todo ano tem isso (ou algo parecido).
Esqueçamos disso tudo! Lembremos das coisas boas, gente!
Em 2012, nossas vidas tiveram abraços inesquecíveis, pessoas maravilhosas, conversas sensacionais, beijos cinematográficos para alguns, cenas hollywoodianas para outros, reencontros, músicas marcantes, tanta coisa boa! Será que queremos mesmo jogar tudo no lixo e começar 2013 do zero?
Se você disse sim, assino embaixo e te desejo que consiga refazer sua vida. Só não deixe de ter fé! Não desista e você conseguirá. E, se precisar, estarei aqui, esperando ser uma partezinha de 2012 que você não se permitirá esquecer.
Se você disse não, estamos juntos nessa! Libertemos o editor da Retrospectiva do Vídeo Show que há em nós! Lembremos das coisas boas! E daquilo que queremos manter para o ano que se inicia.
Lógico, precisamos mudar coisas aqui ou ali, mas não precisa ser no último dia do ano! Se em fevereiro você descobriu que errou e precisa fazer diferente, faça! E sorria! Sorria como os artistas que aparecem no "Falha Nossa", gargalhando depois de erros grotestos.
E que 2013 seja como 2012... Só que não muito! Explico: que seja a parte boa de 2012 com a tentativa de melhorar as partes ruins.
Ah!! Quase esqueci!! Não... Deixa pra lá...
Ok, eu falo!
Eu ia dizer pra você usar filtro solar, mas todo ano tem isso...

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Natal, Natal das crianças



Estava tão concentrado em sua leitura que nem reparou como o ônibus havia ficado cheio. Somente quando uma moça parou ao seu lado, acompanhada do filho, foi que ele “despertou”. O jovem levantou-se, educadamente, a fim de ceder seu lugar para que a moça sentasse com seu filho, que aparentava ter uns oito anos.
Em pé, o rapaz começou a abrir sua mochila para guardar o livro que estava lendo anteriormente, mas foi interrompido pelo menino:
- Está lendo o que, tio?
- Elogio da Loucura. Mas não me chama de tio... Tenho quase a sua idade.
- Tem nada! Eu só tenho 7 anos! – respondeu o menino, sorrindo. – Posso ver? – e pegou o livro.
- Daniel!! Que falta de educação! Devolve para o moço! – repreendeu a mãe.
- Não, tudo bem! Você gosta de ler, Daniel?
- Depende... – respondeu a criança enquanto abria o livro e passava as páginas.
- Ué, como assim “depende”? – divertiu-se o jovem.
- Depende, tio...
- Lucas. Me chama de Lucas, só para eu não me sentir muito velho, combinado? – e sorriu.
Aliás, se tinha uma coisa que Lucas não conseguia segurar perto das crianças era o sorriso. Era um fã declarado delas, da espontaneidade, da habilidade que elas têm de acreditar nas coisas.
- Beleza... – concordou Daniel – Então, esse aqui, por exemplo, eu não gostei, ti... Lucas!!
- Ah, não? Por quê? Você nem leu ainda, zé mané!
- Mas quase não tem travessão. Eu gosto quando tem muito travessão.
- Como assim?
- É! Gosto das conversas! É o mais importante em qualquer história.
Lucas ficou surpreso. Só conseguiu balançar a cabeça afirmativamente.
O garoto devolveu o livro e o rapaz guardou na mochila. Alguns minutos passaram até que Lucas notou o menino distraído com a decoração de Natal de uma loja. Aproveitou para puxar assunto novamente:
- Bonito, né? E de Natal, você gosta ou também “depende”? – falou imitando a entonação de Daniel.
- Ah, gosto! – disse o garoto sorrindo, mas ficou pensativo logo depois – Lucas, você acredita em Papai Noel?
O rapaz ficou sem saber como reagir à pergunta e olhou para a mãe. Ela, tão surpresa quanto Lucas, apenas deu de ombro. Para o alívio de ambos, Daniel voltou a falar:
- Eu não acredito, sabe? Já não sou mais criancinha...
- Ah, não é mais criancinha? – Lucas e a mãe do menino começaram a rir.
- Sou não. Sei que ele não existe. E vocês dois também sabem disso. Mas, se ele existisse e você pudesse pedir um presente para ele, o que você pediria, Lucas?
- Caramba! Assim, na lata? Sei lá! São muitas opções...
- Então, é fácil! Só escolhe uma das opções. Pode ser qualquer coisa! – disse Daniel revirando os olhos.
- Não sei, zé mané! É uma pergunta muito difícil!
- Para adultos é tudo muito difícil... – resmungou Daniel.
Lucas achou graça e melhor não retrucar, pois concordava plenamente com o menino. Entretanto, aquela pergunta ficou na cabeça dele. O que pediria para o Papai Noel? Demorou muito até encontrar uma resposta.
- Daniel... Pode ser qualquer coisa mesmo, né?
- Qualquer coisa o quê?
- O pedido pro Papai Noel, zé mané!
- Ah, tá! Pode! Pensou em alguma coisa?
- Sim. Se eu pudesse pedir qualquer coisa para o Papai Noel, eu pediria que minha mãe vivesse para sempre.
- E eu que sou o zé mané... – falou o menino, balançando a cabeça negativamente.
- Ué, você disse que poderia ser qualquer coisa!
- É, mas se sua mãe vivesse pra sempre, ela iria sofrer pra sempre depois que você morresse.
A resposta foi um choque para Lucas:
- Cara, você tem certeza que só tem 7 anos? – divertiu-se o rapaz.
- Viu? Eu disse que não era mais criancinha!
Neste momento, a mãe de Daniel se levantou e disse:
- Vamos, Dani. Se despede do Lucas porque a gente desce no próximo ponto.
O garoto apertou a mão de Lucas e deu tchau. Enquanto mãe e filho se dirigiam para a parte de trás do ônibus, Lucas chamou o rapazinho:
- Daniel! – o menino virou-se para olhar – E você? O que pediria para o Papai Noel?
Daniel olhou para o chão no ônibus durante poucos segundos e, depois que este parou, respondeu enquanto descia:
- Travessões... Muitos travessões na vida de todo mundo.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Abraço

Foi o melhor abraço de todos. E olha que a concorrência é grande.
Você conversava com outras duas pessoas quando eu cheguei pelas suas costas e te enlacei com meus braços. Você, percebendo que era eu, se aconchegou, aceitando meu abraço. Como se estivesse pedindo para eu não me afastar, você, com uma das mãos, segurou o dedo indicador da minha mão esquerda e, com a outra, entrelaçou seus dedos nos dedos da minha mão direita.
Apoiei meu queixo em seu ombro, como se respondesse que não queria sair nunca mais desse abraço. E você, encostando sua cabeça na minha, mostrou-me que também queria ficar ali por tempo indeterminado.
Foi mesmo o melhor abraço.
Imagina, então, quando for de verdade...