quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ela em quatro estações

Um jeito de mover-se que lembra as folhas das árvores balançando suavemente devido à brisa da primavera.
Um sorriso cujo brilho só pode ser comparado a união do brilho de todas as estrelas de uma noite de verão.
Uma voz que soava de forma leve e encantadora, como os passarinhos cantando em uma tarde de outono.
Ela caminhava em sua direção, sorrindo e falando animadamente. Sem tirar os olhos dos seus, parou na sua frente e disse:
- Pedro, acorda! Vai perder a hora!
Ele estranhou, mas ouviu novamente, entretanto, dessa vez, reconheceu a voz da sua mãe:
- Anda, Pedro! Você vai se atrasar! Já tem café pronto...
O rapaz abriu os olhos lutando contra a luz do dia e tentando aconchegar-se embaixo das cobertas, mas já era tarde. Sonhara com ela novamente, mas o sonho havia se perdido com o chamado de sua mãe.
E aqueles dias longe dela foram suficientes para que ele sentisse a saudade bater, como uma manhã fria de inverno.

domingo, 8 de agosto de 2010

Dia dos Pais

Hoje, me peguei pensando como seria se você ainda estivesse aqui.
Eu não tenho nenhuma referência de como eram nossos Dias dos Pais, até porque já faz 18 anos que Deus o levou para junto Dele. Entretanto, no meu mundinho imáginário perfeito, eu acordaria por volta das 8h e você já estaria na cozinha tomando café em uma caneca. Daria "bom dia" a você e misturaria o café quente com o leite gelado recém tirado da geladeira. Minha mãe passaria pela cozinha a caminho da área para pendurar sua toalha de banho e falaria:
- Leite gelado, Rafael?! Tem leite quente na leiteira!
- Não... Prefiro frio. - eu responderia.
Beberia meu café-com-leite e pegaria minha toalha para tomar banho, enquanto minha mãe estaria passando uma blusa. Você perguntaria:
- Não vai comer nada, filho?
- Não... Quero nada, não.
No caminho para o banheiro, a Bianca me chamaria de dentro do quarto:
- Vamos entregar o presente agora!
Nós dois voltaríamos para a cozinha.
- Pai.
- Hum? - você diria enquanto lavava a caneca do café.
- Feliz Dia dos Pais!! - responderíamos nós dois.
E depois de agradecimentos, beijos e abraços, você abriria o presente: uma colônia, gravata, sei lá... Não consegui imaginar isso. Só imaginei que não seria loção pós-barba, pois você ainda cultivaria a sua barba e que quem comprou o presente foi a Bianca porque eu não saberia o que escolher.
A próxima cena desse filme, que veio a minha cabeça, foi uma na qual eu e você estaríamos sentados no sofá da sala, por volta das 9:30, já prontos, esperando minha mãe e Bianca se arrumarem para irmos à missa.
- Vamos, gente! Olha a hora! - você diria.
- Depois, não vamos conseguir lugar na frente e não vão saber por quê! - eu completaria.
Depois de muita insistência, conseguiríamos sair de casa 09:45 e andaríamos até a igreja.
Ao fim da missa, passaríamos em casa só para pegar o carro (um fusca azul marinho, por que não?) e iríamos almoçar em algum restaurante... Fora da Ilha!
Enfrentaríamos fila para entrar e nosso pedido demoraria para ficar pronto, o que nos deixaria preocupados, afinal, 16h teria Flamengo x Corinthians.
Conseguiríamos comer e sairíamos correndo do restaurante e voltaríamos para casa para assistir ao jogo, só que, antes, deixaríamos a Bianca na Leopoldina, pois ela iria encontrar o Gabriel.
Chegaríamos em casa faltando 10 minutos para começar o jogo, ligariamos a tv e minha mãe iria para o computador resolver algumas coisas a respeito do próximo curso do MCP.
- Não acredito que a Bianca foi encontrar o Gabriel no Dia dos Pais! - eu diria.
- Deixa ela, Rafa! Pensa pelo lado bom: não vai ter mulher perturbando durante o jogo!
- Eu ouvi isso, hein?! - minha mãe gritaria do quarto.
E nós gargalharíamos, mas só até ver que o jogo tinha começado.
Você, junto comigo, gritaria, reclamaria e mandaria o Kléberson para lugares nada agradáveis e lamentaríamos um gol de empate perdido nos acréscimos do jogo (pois é, meu mundinho imaginário perfeito conta com fatos não tão perfeitos assim).
Depois do jogo, a Bianca chegaria incrivelmente rápido em casa e, como uma família feliz, comeríamos pizza com a tv ligada no Fantástico, enquanto conversaríamos e você tocaria o violão (ainda seu), me ensinando alguma coisa sobre.
Pois é. Foi esse dia que passou pela minha cabeça. Mas, voltando à realidade, eu queria agradecer a você, meu pai. Sim, pela pessoa que você foi. Por ter sido essa pessoa, hoje eu ouço somente coisas boas a seu respeito, de quem quer que o tenha conhecido, o que o torna, mesmo sem 18 anos de convivência, um exemplo a ser seguido.
Obrigado pela mesa de botão.
Obrigado pelo violão.
Obrigado por ter me ensinado, ainda no apartamento da Tijuca, que, na verdade, é a Terra que gira em torno do sol e não o contrário.
Obrigado por me explicar, também ainda no apartamento da Tijuca, que o barulho dos índios que queriam me pegar era, na verdade, a tv do vizinho ligada de madrugada.
Enfim, obrigado.
Foram 4 anos de convivência que geraram lembranças e aprendizados que me forcei a não esquecer.
Algumas vezes, sonho que me debruço na janela da casa da vovó (com alguém, a Naninha ou a vovó, se não me engano, me segurando por eu ser ainda pequeno) como naquele dia de agosto de 1992, e vejo você chegando, junto com os outros adultos. Tudo teria sido bastante diferente.
Mas Papai do Céu sabe o que faz.
Amo você!