Hoje, me peguei pensando como seria se você ainda estivesse aqui.
Eu não tenho nenhuma referência de como eram nossos Dias dos Pais, até porque já faz 18 anos que Deus o levou para junto Dele. Entretanto, no meu mundinho imáginário perfeito, eu acordaria por volta das 8h e você já estaria na cozinha tomando café em uma caneca. Daria "bom dia" a você e misturaria o café quente com o leite gelado recém tirado da geladeira. Minha mãe passaria pela cozinha a caminho da área para pendurar sua toalha de banho e falaria:
- Leite gelado, Rafael?! Tem leite quente na leiteira!
- Não... Prefiro frio. - eu responderia.
Beberia meu café-com-leite e pegaria minha toalha para tomar banho, enquanto minha mãe estaria passando uma blusa. Você perguntaria:
- Não vai comer nada, filho?
- Não... Quero nada, não.
No caminho para o banheiro, a Bianca me chamaria de dentro do quarto:
- Vamos entregar o presente agora!
Nós dois voltaríamos para a cozinha.
- Pai.
- Hum? - você diria enquanto lavava a caneca do café.
- Feliz Dia dos Pais!! - responderíamos nós dois.
E depois de agradecimentos, beijos e abraços, você abriria o presente: uma colônia, gravata, sei lá... Não consegui imaginar isso. Só imaginei que não seria loção pós-barba, pois você ainda cultivaria a sua barba e que quem comprou o presente foi a Bianca porque eu não saberia o que escolher.
A próxima cena desse filme, que veio a minha cabeça, foi uma na qual eu e você estaríamos sentados no sofá da sala, por volta das 9:30, já prontos, esperando minha mãe e Bianca se arrumarem para irmos à missa.
- Vamos, gente! Olha a hora! - você diria.
- Depois, não vamos conseguir lugar na frente e não vão saber por quê! - eu completaria.
Depois de muita insistência, conseguiríamos sair de casa 09:45 e andaríamos até a igreja.
Ao fim da missa, passaríamos em casa só para pegar o carro (um fusca azul marinho, por que não?) e iríamos almoçar em algum restaurante... Fora da Ilha!
Enfrentaríamos fila para entrar e nosso pedido demoraria para ficar pronto, o que nos deixaria preocupados, afinal, 16h teria Flamengo x Corinthians.
Conseguiríamos comer e sairíamos correndo do restaurante e voltaríamos para casa para assistir ao jogo, só que, antes, deixaríamos a Bianca na Leopoldina, pois ela iria encontrar o Gabriel.
Chegaríamos em casa faltando 10 minutos para começar o jogo, ligariamos a tv e minha mãe iria para o computador resolver algumas coisas a respeito do próximo curso do MCP.
- Não acredito que a Bianca foi encontrar o Gabriel no Dia dos Pais! - eu diria.
- Deixa ela, Rafa! Pensa pelo lado bom: não vai ter mulher perturbando durante o jogo!
- Eu ouvi isso, hein?! - minha mãe gritaria do quarto.
E nós gargalharíamos, mas só até ver que o jogo tinha começado.
Você, junto comigo, gritaria, reclamaria e mandaria o Kléberson para lugares nada agradáveis e lamentaríamos um gol de empate perdido nos acréscimos do jogo (pois é, meu mundinho imaginário perfeito conta com fatos não tão perfeitos assim).
Depois do jogo, a Bianca chegaria incrivelmente rápido em casa e, como uma família feliz, comeríamos pizza com a tv ligada no Fantástico, enquanto conversaríamos e você tocaria o violão (ainda seu), me ensinando alguma coisa sobre.
Pois é. Foi esse dia que passou pela minha cabeça. Mas, voltando à realidade, eu queria agradecer a você, meu pai. Sim, pela pessoa que você foi. Por ter sido essa pessoa, hoje eu ouço somente coisas boas a seu respeito, de quem quer que o tenha conhecido, o que o torna, mesmo sem 18 anos de convivência, um exemplo a ser seguido.
Obrigado pela mesa de botão.
Obrigado pelo violão.
Obrigado por ter me ensinado, ainda no apartamento da Tijuca, que, na verdade, é a Terra que gira em torno do sol e não o contrário.
Obrigado por me explicar, também ainda no apartamento da Tijuca, que o barulho dos índios que queriam me pegar era, na verdade, a tv do vizinho ligada de madrugada.
Enfim, obrigado.
Foram 4 anos de convivência que geraram lembranças e aprendizados que me forcei a não esquecer.
Algumas vezes, sonho que me debruço na janela da casa da vovó (com alguém, a Naninha ou a vovó, se não me engano, me segurando por eu ser ainda pequeno) como naquele dia de agosto de 1992, e vejo você chegando, junto com os outros adultos. Tudo teria sido bastante diferente.
Mas Papai do Céu sabe o que faz.
Amo você!