Chegou no quarto já tarde da noite e viu que tinha recebido
um monte de mensagens no celular. Com calma começou a ler uma por uma,
respondendo apenas as que eram realmente necessárias. Cansado, ia deixar para
continuar no dia seguinte pela manhã, entretanto, viu um número estranho na
lista de remetentes (para variar um pouco!). A foto do contato, porém, era
reconhecível.
"Ok! Vou responder só mais essa. Vai que é crise,
né?"
E era crise... Crise de choro (escondido!) quando ele leu a
notícia que há anos esperava receber.
Foram anos nos quais o mundo mudou muito; milhões de coisas
aconteceram e deixaram de acontecer; bandas fizeram muito sucesso e caíram no
esquecimento; filmes quebraram recordes de bilheterias e se tornaram chatos de
tantas vezes que foram vistos; a cultura do descartável ficou mais forte e a
idéia de "uso enquanto me convém e depois eu jogo fora" começou a ser
usada até em relação a seres humanos; duas Copas do Mundo vieram e passaram;
etc, etc, etc. Anos nos quais uma menina foi embora para a chegada de uma
mulher; faculdades chegaram e se foram como se estivéssemos mudando o canal da
televisão; cabelos ficaram longos, depois curtos; barbas ficaram gigantes e
depois sumiram; pessoas apareceram e depois saíram de suas vidas com a facilidade
de quem vira a página de um livro (ou a dificuldade de quem rasga uma folha em
mínimos pedacinhos).
Mas, em todos esses anos de espera por uma notícia, algo foi
constante: a presença do remetente da mensagem em sua vida.
Uma presença doída pela distância entre cidades. "Quem
foi que teve a idéia absurda de fundar Manaus e Recife tão longe do Rio de
Janeiro?" - ele se perguntou muitas vezes nos anos de espera.
Uma presença doida pela proximidade dos dois, mesmo com a
distância física. "Quando a gente se vê, parece que nos vimos há poucas
horas!" - ele pensava depois de todas as poucas vezes que se encontraram nos
anos de espera.
Nesses anos, apesar de todas as mudanças, eles continuaram
irmãos! Contrariando aquilo que muitos talvez pensavam, não era fogo de palha,
nem bobagem de adolescente ou qualquer outra coisa. Fizeram e são parte um da
vida do outro. Tradições que só os dois entendem foram criadas. Maluquices que
só os dois não acham maluquice foram elaboradas. Piadas, perturbações,
implicâncias, tudo isso virou parte de um rito próprio que a relação dos dois
têm.
E ele, ultimamente, sentia-se (e, sem que ela saiba, ainda
sente) muito culpado por não dar a atenção merecida a ela e ao rito deles.
Tudo isso passou na cabeça dele em um segundo. Um segundo
foi o tempo entre o término da leitura da mensagem e a primeira lágrima que
escorreu até ser rapidamente enxugada.
A notícia tão esperada chegou:
"Vou me mudar, achei que vc tinha que ser um dos primeiros a saber, então... Assim que der tô indo pra Angra"
"Vou me mudar, achei que vc tinha que ser um dos primeiros a saber, então... Assim que der tô indo pra Angra"
Ela está voltando!!!! Ok, não é para a cidade do Rio, mas é
para o ladinho dele. Ele vai poder cuidar mais de perto, como um irmão mais
velho deve fazer.
Pois é, minha irmã, minha alegria foi enorme! Você não tem
noção...
Mas prepare-se, porque eu vou pegar no pé (literalmente
sempre que der!). Mas só porque tem aquele negócio lá das quatro letras, que
começou meio do nada, virou verdade verdadeira e hoje se torna cada vez mais
certo. Mas isso é coisa nossa, S, só a gente entende...
Escrevi no meio do texto e finalizo repetindo: fizemos e
somos parte um da vida do outro. E você será da minha até o fim.