quinta-feira, 1 de abril de 2010

Dona

Sabia exatamente o que estava procurando naquele salão de festas.
Fazia algumas semanas que buscava encontrar aqueles olhos, aquele olhar, onde quer que fosse. Obviamente, só era possível encontrá-los quando estava próximo dela. E, nesses momentos, quando os olhares se cruzavam, prendiam-se um no outro, fosse por alguns milésimos ou por alguns segundos que pareciam intermináveis.
Ela tem olhos que exercem sua função de olhar de forma profunda, como jamais havia encontrado, que não desviam do destino, até que sejam obrigados a fazê-lo por forças externas. São olhos com os atributos que procurava. É até engraçado pensar que foram trocados mais olhares do que palavras.
Mas, voltando à narrativa que iniciei, estava em um grande salão, sabendo da possibilidade de ela estar também por ali, por isso procurava de forma ávida pelo olhar cuja lembrança perturba de forma latente. A busca tornou-se mais fácil ao localizar a dona, entretanto, ela parecia distraída. E foi durante esta espera por sua atenção, observando-a de longe, que pensamentos começaram a surgir.
Demorou um pouco, mas logo tudo ficou claro. Não eram somente os olhos dela que chamavam atenção, mas também o lindo sorriso e tudo mais, até mesmo o jeito de mexer no cabelo, de forma despercebida, quase que por instinto.
Após alguns minutos sem que tirasse os olhos dela, finalmente os olhares se cruzaram. De forma profunda, como se quisessem dizer algo. Porém, desta vez foi diferente.
Ela me olhava de uma forma que parecia ser capaz de ler tudo em mim e, por isso, receoso, não consegui sustentar o olhar. Ela não iria descobrir, naquele momento.
Abaixei a cabeça e dei um sorriso bobo, talvez ainda lutando contra a minha recente descoberta, aquela que ela não poderia ficar sabendo naquele momento: ela não era apenas a dona de olhos penetrantes e aconchegantes, a dona de um sorriso lindo, a dona de um jeito surpreendentemente encantador de mexer nos cabelos. Ela estava tornando-se, também, a dona do coração de um certo rapaz que fala com os olhos aquilo que não fala com palavras.